sexta-feira, 20 de outubro de 2017

ilha

na sua porta ninguém bate
com a mão invisível que governa
todos esses aplausos no templo do senhor
mas na minha cabeça pancada de atabaque
esse seu dedo que passeia tela touch e não sente
não se sente em frente apontando o dedo
e na sua entrada entenda o enredo
quem come bem dorme melhor
a noite ando sonhando alto:

dentro desisti mas em redor ainda remo

terça-feira, 10 de outubro de 2017

prematura

eu não podia dar certo
nasci no inverno prefiro picolé e praia
quando, depois de tirar as rodinhas, minha mãe soltou a bicicleta eu caí
e caí muitas outras vezes na vida
sem que isso nunca me tivesse acrescido em coragem e determinação
minha trajetória é um arco do avesso na evolução das eras
e mulher da minha família diminui quando velha
os ombros encolhidos é a parte do corpo que mais me dói.
"senta aqui no meu colo" uma vez um velho me disse
eu voltando pra casa com a roupa da escolhinha
e corri na rua em que os meninos brincavam mata soldado
eu não podia dar certo
rua de barro nesse horizonte bairrista
é medo o meu motor
não da aparência da morte nos telejornais ou do fogo do inferno
mas do tédio que tinge essa cortina de pó
eu não poderia dar certo
como bem poucos se orgulham
sem minhas rodas
correndo dos soldados
nesse inverno de medo

um arco

me pus a escrever um poema sobre o amor
e me fiz cega sob a luz de seu espírito mudo
sua presença rodopiava um contorno à sombra de uma lente
então pensei pintá-lo num grande letreiro
em promoção na fachada de todas as vitrines
mas duas gotas salgadas atravessaram a aquarela
procurei um retrato que pudesse ornamentar um andor
e eis que toda a cidade polvorosa queima seus registros
e pontas de flecha abrem janelas

segunda-feira, 12 de junho de 2017

[escolher nome]


- começa dizendo que eu tinha 26 anos
-  que eu rodei muitos ?00 km (?)

cheguei vinte oito pra vinte nove de dezembro.
era quase virada.
no que cheguei confundi gabiru com gato.
[insira o resto]

garrafada, a pessoa abrir corte fundo essas coisa eu nunca tinha vivido.
nunca precisei. tiro. calcule um tiro.
minha gente eu me tremia

Bomba
Para dançar isso aqui
E uma mão vai na cabeça.
Para mexer é

- branca
- besta

basto um dois ensaio pra sacar a ciência da comsciência.
era energia [selecionar]
a)cósmica
b)astrológica
c)quântica
d)música  <~

oi gira deixa a gira

eu tava pra aprender
enquanto uma parcela era apreendida
emparedada
ninguém pensa no calor
merrmão sol quente na molera
no calor ninguém vê
ninguém prensa

- falar sobre ensaio na nação

passarela não é o canal
carnaval é ensaio
a festa ta ali
os babado no banal do dia a dia
sabe assim?
passarela é quem veio à passeio
agora o bruto da bandalheira
esse sim!
brilha

mas nem tudo que reluz

gratidão
acho melhor do que obrigada
preferia não fazer nada obrigada
mas pouca coisa é minha só minha
que nem ninguém é só
nem nada é minha
à todos tudo

mas aqui chove.
o tempo todo chove. equinócio [ou solstício é melhor a palavra?]
mas equi propriamente dito isso eu não diria.
"se dois são iguais a um terceiro então todos são iguais entre si"
é um teorema.
um matemático escreveu [insira nome histórico]
mas entende o sociólogo ou o trovador
que não existe igual sem a proporção do que distoa.
precisa ter uma gente atoa pra desatolar inclusive a indústria

problema é que quando chove muito ferida nenhuma seca.
volte e meia verte uma água.
mas salve translação [ou rotação]
que ao planeta o seu curso
e dias melhores verão

terça-feira, 30 de agosto de 2016

pleitear

Não vote plante
no meio da tarde quando a cidade exige
aproveite os buracos bem na Avenida do Estado
com seus artistas urbanos combativos
se consagrando em tediosas combinações de cinza Guernica

plante um pé de batata em agosto
de folhas bem vivas,
uma maniva de mandioca
ou até um sombreiro

só não plante flores
que o funcionamento do coração e a nutrição do corpo humano
intrigavam aos renascentistas
muito mais que seus afrescos e todo o deleite existencialista
gente bota a alma pra fora e por tudo se expande
e ainda que o corpo possa ser encerrado numa urna
o seu pulsar não

Não vote plante
e quando aquele candidato (i)lustrado
baba seu falaceiro diplomado na tevê
esteja atento às suas unhas
se elas estão polidas ou se tem os cantinhos marrons
porque toda promessa de vida, alimento e sombra
até cabem num vaso
mas saiba que suas raízes farejam terra úmida.

terça-feira, 5 de abril de 2016

bravura

um bode
atravessou o pátio grande da casa
mijou no tapete e mastigou parte das flores que pendiam da varanda
a parte amarela

depois bateu seus chifres até que a cerca se abrisse
para enfim ganhar a rua
a praça, o mercado
e por onde passou golpeou e ofendeu de lama o que havia de direito
lambeu a ferida do morador da ponte
com a mesma língua com que atacou a fruta da menina
lambeu a fruta dela

um bode brabo
berrou com o bispo e bulinou com a bandeira nacional
muitas pessoas enxotaram o bode
correram dele
atiraram em sua direção
pedras, cebolas e o que houvesse ao alcance

pobre do bicho tinha fome
e um sino pendia de seu pescoço
tornando ainda mais tenso o seu caminhar

a quem pertencia?
de onde teria vindo?
quem podemos culpar hoje?
bode não fala e já ninguém ouve mesmo

durante aquela luta instintiva
uma lágrima manchava seu olhar fissurado
o olho estralado
que depois sobrou quando sua cabeça foi enfeitar a porta da prefeitura

venceu o projeto civilizatório e já nem é preciso faca
a probidade pela proibição

e nos cantos sórdidos dos bairros porcos
os condenados encarnam o bode
quando a noite as tochas se acendem para a caçada cortês

e são noites de baile
os seletos dançam o som harmonioso da lira
bem afeiçoados ao cheiro da lima
que só enjoa às crianças
que aos olhos deles são criaturas inacabadas

os olhos de deus?
só vêem o bem
e enxergam bem muito

segunda-feira, 4 de abril de 2016

sentir que seja

um boneco que pedala movido à corda
preso no quarto pedalando contra a porta
assim é uma mágoa

a liberdade anda descalça
mas lá fora, à sombra de homens-estátua
a cidade empreende sua guerra
e mesmo aqui dentro são tantos cacos

uma corda atravessa o caminho
andar sobre ou agarrar-se nela
são escolhas travadas sob essa chuva fina

não saber como acaba
e a impressão de que o fim não é o ponto
mas entrever pela engrenagem
olhos a dentro
a marioneta