quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Mico Mouse

Acontece que lhe ocorria ser rato.
Criatura miserável que faz ninho nos esgotos suburbanos. Rato mesmo. Comendo daquilo que se bota fora e apodrece no chão, que escorre uma cor suja. Não do excedente, como fazem as ratazanas à beira dos prédios de vidro e mármore dos grandes centros, aquelas ratazanas são inclusive rosinhas e claras. Era acinzentado em tufos com um focinho bicudo. Tinha por ninho o lugar onde dormia e o mesmo onde cagava. Asqueroso! Mas era. Assim como no caso da lama, do lixo e da periferia. Existem. Já estão todos quando se dá com a cara no mundo. A noite, correndo na madrugada se perguntava quem era responsável por aqueles desenganos. Pra roer ele todo. Carniceiro! E de tanta vergonha não fazia mais que se ocupar de satisfações rudimentares, um lugar quentinho, comer, fazer ninho. Ouvia sobre lugares exóticos em que ratos tinham prestígio social nas entradas de importantes banquetes dinásticos. Mas não aqui. Ufa! Aqui só não lhe podiam ver nem lembrar que existia e que alimentava outros selvagens. Geralmente os pelos, o rabo ou os pezinhos cumpridos lhe desenhavam a caricatura. Mas a frustração de sua imundice se manifestava mesmo era no apetite de esfarelar e destruir. Seu estomaguinho reciclou grandes amontoados de restos em troca de míseras bolinhas. Agora isso não notavam. Nem a injustiça que era carregar o crime de ser a criatura que se é. E ainda num corpo tão insignificante. Espécie de inexpressiva expectativa de vida. Mesmo assim tem quem gaste com veneno. Faça arapuca. Maldade. Também com aquele chiado de apito de chaleira. Acoado pelos cantos. Ui que só de pensar em encostar. Mas acontece. E antes de morrer se alastram. Que força de pertencer! Não lhe exterminam a existência não é nem por misericórdia. Só o caso de estarem todos ocupados em produzir restos na função de satisfazer aos seus desejos de predadores importantes. 
Veja bem que o aerosol é silencioso. 

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